PROGRESSÃO
CONTINUADA
Matéria
do ano de 2018. Site Todos Pela Educação
A
progressão continuada, às vezes confundida com “aprovação automática”, vem
sendo foco de árduos debates de Educação desde o início dos anos 1980. Com
isso, ocupou lugar de destaque nas falas de gestores e até mesmo nas campanhas
eleitorais.
O que é progressão continuada?
No Ensino Fundamental, o Brasil
possui duas formas básicas de ensino: por séries ou por ciclos. O primeiro tipo
pressupõe que cada aluno com desempenho insatisfatório seja reprovado ao final
do ano letivo. Já os que dominam o conhecimento esperado devem progredir para a
próxima série.
O ensino por ciclos tem outra cara:
os estudantes devem obter as habilidades e competências em um ciclo que, em
geral, é mais longo do que um ano ou uma série. Como, dentro de um ciclo,
normalmente, não está prevista a repetência, mas sim a recuperação dos
conteúdos por meio de aulas de reforço, usa-se o termo progressão continuada.
Qual a intenção de dividir o estudo
em ciclos e de limitar a repetência?
De acordo com pesquisadores da
Educação, os ciclos são uma tentativa de regularizar o fluxo dos alunos ao
longo dos anos na escola, superando o fracasso escolar das altas taxas de
reprovação. A ideia é fazer com que os estudantes tenham acesso ao ensino sem
interrupções ou repetências que criem desânimo ou prejudiquem o aprendizado.
Quando a progressão continuada
começou a ser implantada?
Há iniciativas de instituir o
ensino por ciclos que datam de 1920. A partir dos anos 1980, a temática ganhou
destaque nos debates nacionais. Mas foi em 1996, com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), que mais redes de ensino começaram a adotar o
ensino por ciclos e a progressão dentro deles.
A Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) prevê a organização por séries?
Não. O texto da BNCC para
o Ensino Fundamental, aprovado em 2017, separou os objetivos de aprendizagem
ano a ano, mas isso significa que as escolas tenham que se organizar por
séries. “Ter objetivos é muito importante. Na Base eles são anuais, mas
poderiam ser semestrais. Isso não quer dizer que a escola tenha de ser
seriada”, afirma o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (FE-USP). O importante, diz o professor, é a
escola ter formas de acompanhar o aprendizado, seja em ciclos ou séries.
Quais são os nomes que a progressão
continuada já recebeu?
Alguns
dos nomes são promoção automática, aprovação automática e avanço progressivo.
Alguns trazem uma carga negativa, como “aprovação automática”.
Quantas escolas têm progressão
continuada?
No
País, 25 de cada 100 escolas dizem oferecer o ensino por meio de ciclos, com a
progressão continuada dentro deles. Diferentes redes estabelecem durações
distintas para os ciclos. No entanto, segundo Alavarse, é muito comum que os
ciclos sejam apenas um rótulo, ou seja, que escolas que dizem trabalhar em
ciclos tenham uma prática seriada. “Os ciclos fazem sentido por alongar o tempo
para o trabalho pedagógico. Mas isso implica num trabalho coletivo, para
permitir a evolução do estudante. Na maioria das escolas, tudo recomeça a cada
ano letivo, sem um acompanhamento contínuo”, diz.
A progressão continuada prejudica o
aprendizado?
Não.
De acordo com o professor Alavarse, “a repetência é contraindicada, na imensa
maioria dos casos, por não resultar em ganho para os que estão repetindo”. Em
comparações de alunos com as mesmas dificuldades, os que progrediram na escola
tiveram vantagens sobre os que repetiram, pois puderam seguir com o mesmo grupo
de colegas e recuperar parte das habilidades esperadas.
Por que a progressão continuada e o
ensino por ciclos são tão criticados?
Muitas
famílias associam os ciclos a uma queda da qualidade do ensino, daí o motivo
das críticas. Parte dos professores também acredita que a ferramenta da
reprovação é um “incentivo” aos estudantes.
No ambiente acadêmico, embora
existam opositores ao sistema de ciclos, há mais defensores. As críticas dos
professores universitários e especialistas recaem, principalmente, sobre a
forma de implantação do sistema de ciclos – que muitas vezes ocorreu sem a
plena participação dos professores, sem um projeto pedagógico adequado e sem
condições para oferta de recuperação de conteúdos aos alunos.
O que o ensino por ciclos e a
progressão continuada precisam para funcionar bem?
O
ensino por ciclos depende de condições materiais adequadas nas escolas, de bons
profissionais, do acompanhamento das famílias. Alguns elementos são
fundamentais para a escola, tais como:
– Uma proposta político-pedagógica
adequada para cada escola.
– Clareza sobre o currículo e sobre os conteúdos que cada estudante tem de
aprender.
– Engajamento da equipe de professores, com trabalho coletivo e até mesmo
mudança das jornadas de trabalho.
– Avaliação do aprendizado dos estudantes e da própria instituição a todo o
tempo, para corrigir eventuais falhas.
– Entendimento do processo de aprendizagem de cada aluno.
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